JOGAMOS COMO NUNCA, PERDEMOS COMO SEMPRE (Graças a má gestão)
- tavernatricolor
- 21 de out.
- 4 min de leitura

Foto: Amanda Ferronato/Grêmio
Perdemos a final da Ladies Cup, e vimos o Palmeiras levantar o troféu em um 4 a 2 que doeu não apenas pelo placar, mas pelo que ele simboliza. Vimos a entrega das nossas atletas, a vontade em campo, a força para buscar o empate duas vezes — e, mesmo assim, saímos derrotados. Mas o que mais machuca não é a derrota em si. É saber que ela é consequência direta de problemas estruturais e crônicos no Futebol Feminino do Grêmio, problemas que não se resolvem com discursos de “reconstrução” nem com apresentações de números vazios à imprensa.
Um jogo que refletiu uma gestão
O jogo começou com o Grêmio mostrando intensidade, posse e coragem. Tivemos boas chegadas, um comportamento coletivo promissor. Ainda assim, foi o Palmeiras quem abriu o placar, com Brena, em uma cobrança de falta precisa. A resposta veio com Giovaninha, símbolo da juventude e da entrega do elenco — um gol que nos deu fôlego, esperança e um intervalo que parecia abrir espaço para reação.
Mas o segundo tempo escancarou o que tentamos esconder há meses. A falha da Raissa na bola atrasada pela Tayla, que recolocou o Palmeiras à frente, é a metáfora perfeita do que vivemos: um time que até tenta construir, mas sem solidez, sem segurança, sem base. O chute furado da goleira, com a bola passando por baixo do pé, não foi apenas um erro técnico — foi o retrato da fragilidade estrutural de um departamento que vive de improvisos.
Mesmo com o golaço de Camila Pini, em um chute espetacular de fora da área, e a breve esperança do 2 a 2, o roteiro se repetiu: um desvio infeliz, um gol nos acréscimos, e o 4 a 2 que selou mais uma derrota que dói mais pelo que representa do que pelo que mostra no placar.
A falha que nasce fora das quatro linhas
A falha de Raissa não deve ser tratada com linchamento individual. Ela é consequência de decisões erradas e de uma gestão que não prioriza o futebol feminino com a seriedade necessária. A renovação da goleira, assim como tantas outras renovações questionáveis, é apenas um sintoma do problema maior: falta de critério técnico e planejamento esportivo.
Há anos o departamento é conduzido por improvisos. Jogadoras são renovadas sem avaliação técnica adequada, contratações são feitas sem coerência tática e as categorias de base — que deveriam ser o coração do projeto — seguem abandonadas. A comunicação institucional tenta maquiar o cenário, mas os fatos estão em campo: o elenco é desequilibrado, o banco é instável e as promessas de “estrutura” não se sustentam.
O discurso do investimento que não chega
Na semana anterior à final, a direção — em especial a gestão Guerra/Marianita — tentou mudar a narrativa, anunciando um “investimento de R$ 15 milhões” no futebol feminino. Chamaram jornalistas ao CT de Canoas, mostraram fotos, números e sorrisos. Mas nós, que acompanhamos o cotidiano, sabemos: esse valor é insuficiente até para a manutenção básica.
O aluguel do CT, a folha salarial, o deslocamento e os custos administrativos consomem boa parte desse montante. O que sobra não representa investimento — representa sobrevivência. Não há ampliação de estrutura física, não há staff técnico completo, não há programas de desenvolvimento de base, e as jogadoras seguem enfrentando realidades muito distantes das que o clube publicamente promete.
Um “laboratório” que já custou caro
Desde 2017, o Grêmio tem tratado sua comissão técnica como um laboratório de apostas. Em vez de buscar profissionais consolidados e com trajetória reconhecida no futebol feminino, o clube insiste em entregar o comando a nomes inexperientes na modalidade, transformando o cargo de treinador em um espaço de experimentação. Em oito anos, apenas um técnico com real reconhecimento e histórico sólido no futebol feminino esteve à frente do time — e por apenas seis meses.Esse padrão revela um problema estrutural: a ausência de um projeto esportivo sério e contínuo. O Grêmio tem entregue o comando do time a profissionais sem experiência consolidada no futebol feminino, muitas vezes oriundos do masculino e sem o conhecimento necessário para lidar com as especificidades da modalidade — seja na preparação tática, na gestão do grupo ou na relação com as atletas.
Não se trata apenas de trocar nomes ou estilos de jogo, mas de insistir em perfis que ainda estão aprendendo o que é treinar mulheres em alto nível, e que acabam usando o clube como etapa de formação pessoal. Isso limita o desenvolvimento coletivo, afeta a confiança do elenco e impede o avanço técnico da equipe. O resultado é um time que, mesmo com talento em campo, não evolui por falta de liderança qualificada. Um clube com a grandeza do Tricolor não pode continuar sendo um laboratório de treinadores — precisa ser um centro de excelência no futebol feminino.
O futuro não pode ser mais do mesmo
Com as eleições se aproximando, o recado da torcida e das atletas precisa ser ouvido. O vice-campeonato na Ladies Cup não é um fracasso esportivo — é um último alerta político e institucional. O Grêmio precisa, urgentemente, de um projeto realista e profissional para o futebol feminino.
Não queremos promessas de “crescimento sustentável”. Queremos planejamento técnico, equipe multidisciplinar, investimento em base, calendário de treinos de alto rendimento e um comando com experiência comprovada. Queremos respeito à modalidade e às profissionais que vestem a camisa tricolor com tanto orgulho.
O Grêmio é grande demais para aceitar o amadorismo como rotina. O momento de virar a chave é agora. Que as eleições que se aproximam sejam o ponto final para a era das ilusões — e de ponto de partida para uma reconstrução de verdade, com responsabilidade, competência e ambição à altura da camisa que carregamos.



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